Ao Ritmo
Ateliê de Rítmica Dalcroze
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Integrantes - Artistas Convidados
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Feitura do Corpo Rítmico é um projeto do Cerco Coreográfico contemplado pelo ProAc Bolsa de Aprimoramento Técnico Artístico, realizado de Janeiro a Julho de 2016. Nesse percurso, continuamos investigando aquilo que acontece no contraste entre instintos e contornos mais tradicionais da dança, da filosofia e do acontecimento artístico. Play.

O objetivo deste projeto foi o aprimoramento técnico-artístico no campo da linguagem e fazeres coreográficos. Nosso objeto de trabalho se concentra no estudo do ritmo e as especificidades de sua atuação em diferentes tradições poéticas, sejam elas coreográficas ou musicais. Estruturamos e intuímos um processo de estudo que salvaguardasse a qualidade inseparável de uma noção técnica como justa manifestação da força artística, e, por isso, vetorizamos este estudo no campo coreográfico em três sentidos precisos:

i. Uma imersão nas propostas e obra de Émile Jaques-Dalcroze, que incluiu aulas de rítmica dalcroziana, de rítmica clássica na tradição da música erudita, e de tala, a rítmica indiana;
ii. Aa leitura demorada dos escritos de John Cage sobre a dança e a música publicados em seu “Silence” e da “Poética da Dança Contemporânea” de Laurence Louppe;
iii. A repetição coreográfica de trechos de criações de diversos coreógrafos.

As relações entre dança e música polinizam ao longo dos séculos muitas transformações de entendimento, prática e criação do ato coreográfico. Nesta vastidão, passando pela música tradicional dos povos que conduz o ritmo como mestre de dança, ou pelo advento da dança barroca quando o mestre de dança se personifica na figura do músico-violinista, podemos eleger, de nosso ponto de vista afetivo e intuitivo, dois momentos fundamentais para aquilo que reconhecemos como poesia no ato coreográfico.

O primeiro seria a obra do artista e pedagogo Dalcroze: “A caminho do ritmo como pulsação de vida, Dalcroze descobriu a dança na colisão ou no toque suave dos corpos que tropeçam entre lugares e coisas – uma dança que se pode chamar “original”, aquém e além de toda localização anatômica ou de qualquer emissão gestual identificável pelo seu contorno. Dalcroze compreendeu, por isso, que a nuance se encontra em nós: é o aumento ou diminuição da textura muscular e nervosa que a mais pequena passagem emotiva aprofunda, faz vibrar ou desfaz. E tudo isso faz sentido. E tudo isso é passível de composição. Há portanto, um canto interior que vem do tônus”* .

Outro momento que ao longo do desenvolvimento das poéticas coreográficas, para nós, ecoa uma força intensa é a contribuição dos pensamentos e obras de Cage. Em especial, no seu livro “Silence” são publicadas considerações sobre a presença de uma clareza rítmica que deveria ser re-descoberta, avaliando a dança norte-americana de seu tempo, ele retoma a questão métrica no poema: “Nos melhores exemplos de versos parece haver um conflito perpétuo entre a lei do verso e a liberdade da linguagem, e cada uma é incessantemente violada pela outra”. E cria uma analogia para mostrar que a noção mais generalizada que reduz o ritmo à métrica não teria nenhum valor artístico, pois a clareza rítmica acompanharia a seu ver uma graciosidade da pequena violação da métrica do ritmo.

Implicar esta proposta de estudo a um acontecimento que respeite às ordens lógicas e i-lógicas das transformações corporais nos conduz a proposição do ato de repetição de trechos coreográficos de diversos artistas para também termos acesso a este conhecimento por uma outra via, que não do tempo da análise e do intelecto. Nos dedicamos ao estudo e repetição, através de nossos corpos, de poéticas coreográficas presentes nas obras de: Nijinsky, Graham, Limon, Bausch, Rainer, Brown e de repertório do Balé e da dança clássica indiana. Procuramos aprender com estes artistas aquilo que eles viam, sentiam e pensavam no ato de incorporar suas danças. Ao dançá-las, ler os vestígios que ficam em nós.

Emprestamos o conceito de “feitura do corpo” do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro para clarear esta idéia tão cara a nós: de que nossos estudos e conhecimento sejam corporificados, transformando nossos próprios corpos. A ênfase está na ação de feitura de um corpo.

No fluxo transitório de diferentes poéticas coreográficas, sonhamos sentir na feitura de nossos corpos as palavras de Louppe: “o fluxo como qualidade pela qual se rejeita o peso. E por isso, entre as formas e forças que nos envolvem, o fluxo é a própria condição da existência. Relembramos a etimologia da palavra “ritmo”, que Beneviste associa à primeira acepção em grego, antes do século IV, segundo a qual ruthmos remete para a “forma”, ou seja, para o modo como um corpo “flui” no mundo”.


* LOUPPE, Laurence, “A poética da dança contemporânea”, tradução de Rita Costa. 1a edição em português, Orfeu Negro, Lisboa, 2012. Página 169.
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Feitura do Corpo Rítmico
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